terça-feira, 31 de maio de 2016

Finalmente, as dores da Maratona!

Ano passado, assim que completei a minha primeira maratona, jurava para mim mesmo que nunca mais faria outra (veja aqui). A prova havia sido relativamente tranquila, afinal estava em plena forma (cerca de seis quilos mais magro que hoje), bem treinado e zerado de lesões, logo não sofri como se espera em uma maratona. Rodrigo, no entanto, desde os primeiros metros havia sentido uma dor que o atormentava e que tentara tratar.

A história de minha segunda maratona foi bem diferente...
Para começar, o processo de preparação foi muito mais doloroso e difícil. Após a maratona em julho de 2015 eu comecei a me recompensar diversas vezes com guloseimas e junkie foods, acreditando que isso era possível, afinal "eu havia feito a maratona"! Seguiram-se: uma nova lesão, inconstância nos treinos, uma viagem de fim de ano ao exterior e outra lesão.
Quando realmente me convenci de que era possível completar outra maratona, após muita insistência e apoio do Rossy, do Rodrigo e da minha família, já era março. Cumpri as planilhas dos treinos e voltei a me motivar com meus resultados e meu emagrecimento. 

Encontrei meu auge ao mesmo tempo em que encontrei Jesus, meu colega colombiano, que correu conosco a maratona do ano passado. Com ele fiz dois dos últimos longões para a prova e fui melhorando, me sentindo mais confiante. No último treino, junto com Carla e Jesus, me faltou um quilômetro dentre os trinta e dois que deveria cumprir. Uma nova lesão, desta vez em algum músculo da coxa, me acendeu o sinal de alerta e jogou minha motivação no chão.

Após ida ao médico e fisioterapeuta, ouvi de ambos, Dr. Sérgio Maurício e Rodrigo, que isto não seria impeditivo para a corrida, bastaria cumprir os dias que me restavam tratando-se. Foi o que fiz.
Em casa ouvi o incentivo da Milena, que inclusive me fez um desenho e no grupo do Whatsapp ouvi incentivos quando já pensara e dissera que desistiria.

No dia anterior à prova recortei o logotipo da Upsports de uma camisa antiga e colei-o em uma camiseta nova que comprei na Track & Field. Não ficou a oitava maravilha do mundo, mas pelo menos eu agora poderia escrever na camisa de cor alaranjada. De cara pensei na minha falecida avó e escrevi o nome dela com muito carinho. Em seguida veio o restante dos meus familiares, Rossy, Rodrigo March e Jesus, aquele que está no céu, mas também o que estaria ao meu lado na prova (não era necessário escrever o nome de ambos, não é?). Preparei também uma playlist intitulada Maratona do Rio 2016 no Google Music que, no fim das contas, resolvi não ouvir.


Ao chegar na prova, fiquei feliz pela ansiedade da Carla, que depois completaria, excepcionalmente bem, sua primeira maratona. Isto me trouxe energias positivas e mais certeza de que eu, apesar do problema muscular e da falta de ritmo, fecharia a prova.


Partimos eu, Jesus, Natália e Carla rumo ao esperado. Posso dizer que os primeiros quinze quilômetros foram relativamente tranquilos. Eu me continha, inseguro quanto à minha condição. Jesus e Carla foram, aos poucos, naturalmente se desgarrando, até que finalmente eu e Natália nos perdemos deles.

Não sei ao certo quando caminhei pela primeira vez (a primeira de muitas), mas isto não me desanimou, pois eu realmente queria completar a prova. O fato de caminhar não se deveu apenas ao calor e à secura do tempo, mas também foi resultado das últimas três semanas de molho e da ansiedade que tomou conta de mim e me fez adotar a velha política de compensação através dos doces.

Eu posso dizer que realmente sofri as dores da maratona dessa vez! Nunca me hidratei tanto numa prova nem fiquei tão feliz em ver o Rodrigo March na vida! Descer a Niemeyer, na altura do quilômetro trinta, ver o Rodrigo com seu spray no cinto de utilidades, pronto pra luta, me fez lembrar saudosamente do ano passado. Realmente eu queria ouvir aquele arsenal de conversas...

Acho que ele deve ter tomado um susto assim que me viu e disse: "e aí, vamos lá?", já que eu lhe retruquei: "calma aí, nem pense em correr agora!"

E assim fomos, eu com minhas dores, Rodrigo, o enfermeiro, com seu spray milagroso e Natália, cansada, mas com paciência para seguir conosco.

Rodrigo tirou uma foto nossa e eu lhe disse que seria o único sorriso que daria na prova. Vieram outros fotógrafos e tentei estar bem na foto, mas não como da primeira vez.


Quase no fim da Praia de Copacabana Natália encontrou o marido que, preocupado com o atraso da sua amada, veio caminhando no sentido contrário para resgatá-la rumo ao final feliz. E assim foram os dois, distanciando-se de nós.

Na Praia de Botafogo e já com a certeza do dever cumprido, vejo a Susana, minha colega da Biblioteca Nacional, de pé junto a grade, com um saco plástico e uma lata de Coca-Cola. Com grande alegria ela me entregou, me deu o incentivo que bastava para completar os últimos dois quilômetros: não a Coca-Cola, mas o sorriso e a frase: "Parabéns! Você está ótimo! Você está muito bem!" Eu, que havia tido uma crise de pânico no cinema duas semanas antes e havia desistido da prova, ganhei uma injeção de ânimo mais forte que qualquer grau de serotonina possível. É claro que tomei dois ou três goles da Coca, cujo sabor era doce como a vitória. Na minha cabeça, era a Flávia quem traria o refri, mas compreendi seus motivos e fiquei feliz da mesma forma.



Na curva comecei a me arrepiar ouvindo o locutor e o som do público.

Na reta final dei um adeus para a equipe de filmagem da Assessoria e vi o Rossy se juntando a nós.

Quando chegaram as grades de proteção meus companheiros me deixaram e procurei desesperadamente minha família, que no ano passado errou o ponto e me encontrou na dispersão.

Ouvi Milena gritar meu nome na altura do pórtico, não me contive e gritei o mais alto que eu pude!

Consegui!

Soltei, aí sim, o sorriso contido pela dor dos 42 quilômetros. Um sorriso de verdade, espontâneo.

Abracei a Dari e meus filhos, saudei meus vizinhos (que vieram me ver), agradeci a minha avó no céu pela ajuda, pensei nos meus pais e no meu irmão e vibrei.

No fim das contas, senti muitas dores, foi muito sofrido, mas sabe, o meu médico e meu fisioterapeuta tinham razão: dava pra correr.

Agora é aguardar onde vai ser a minha próxima maratona no ano que vem!

domingo, 29 de maio de 2016

O santo spray de incentivo

Hoje tive oportunidade de correr a Maratona do Rio por dentro, digo sem ter a missão de completá-la. Combinei de correr os últimos 10km da prova com o amigo Tarso, que me acompanhou nos primeiros 42km no ano passado. Em 2015, eu me superei e corri lesionado. Dessa vez, foram o Tarso e outros guerreiros.

Cheguei cedo no Mirante do Leblon, saída da Avenida Niemeyer, e logo descobri que dali seriam 12km e não 10km até a chegada. Enchi as garrafas do cinto de hidratação com água e sentei no meio-fio à espera. Conversei uma parte do tempo com outro corredor que também acompanharia um colega. Naquele momento, avistávamos os atletas em ritmo de 5min/km, disse ele.

Não demorou para surgir o Jorge, da nossa equipe, a UpsportsClub. Ele fechou os 42km em 3h36min. Fiquei menos ansioso, pois sabia que o Tarso não havia passado. Fui para pista e cumprimentei o Jorge, orgulhoso de ter um amigo tão rápido. Depois, fiz o mesmo com Alex, Carla e Jesus. Foi muito boa a sensação de incentivar as pessoas, não apenas os amigos.

Era mais de 11h quando avistei o Tarso. A essa altura, sabia que ele estava devagar por causa da dor na coxa. Mas fiquei mais aliviado ao ver que não estava sozinho. Natália, também da nossa equipe, o acompanhava. E fomos juntos até ela encontrar o noivo em Copacabana. Tarso chegou bem-humorado. Ou seja, estava normal...rs

Levei um spray anti-inflamatório para o caso de a situação dele apertar. E acabei ‘salvando’ outros pelo caminho. O Tarso mesmo só aceitou o spray de tanto eu insistir e chamá-lo de teimoso.

Salvar, na verdade, é um exagero. Foi mais o lado psicológico, pois junto com o spray vieram as orientações de alongamento e palavras para não desistir. O primeiro que o ‘doutor’ aqui atendeu foi quando ainda esperava o Tarso no meio-fio. O sujeito sentou do meu lado e falou que não aguentava mais sentir câimbras. Falei que o pior havia passado, que também havia corrido com dor minha primeira maratona, como era a dele. Ele se alongou, recebeu o spray mágico (rs) e prosseguiu.

O segundo estava estirado na pista, sendo amparado por outros atletas, creio que já em Ipanema. Também reclamava da panturrilha. Ofereci o spray e ele agradeceu dizendo que eu era um “anjo” que mandaram em sua corrida. Caramba, pensei... Esse spray é mágico mesmo!

Na transição de Copacabana para Botafogo, na entrada do túnel, mais um estirado. Sentia demais a coxa e era socorrido por outro atleta. Usei o spray mais uma vez, falei palavras de incentivo (faltava pouco) e o levantei do chão.

No túnel seguinte, percebi que outra pessoa caminhava com muita dificuldade. Ofereci o santo remédio e ele não entendeu. Era gringo...kkk Expliquei o que era e aceitou.

Dos que eu ajudei no caminho, esse último consegui ver terminar a prova, correndo! Espero que os outros tenham concluído e tantos outros para quem simplesmente falei “vambora” e a pessoa logo retomava a marcha.

Foram extremamente gratificantes esses 12km. E pude ver de fora a emoção da chegada que já senti duas vezes. São todos guerreiros.

Natália e Tarso

quarta-feira, 18 de maio de 2016

A segunda é mais gostosa!

Fiz minha segunda maratona. Não, não foi fácil. Mas foi mais fácil que a primeira, apesar do tempo maior para concluí-la. Por quê? Principalmente porque eu estava menos ansioso pressionado por mim mesmo. Afinal, já havia feito a primeira.

Foi no dia 1º de maio, em Toronto, no Canadá. Eu prometi correr a segunda com o amigo Tarso, que me acompanhou na primeira, no Rio de Janeiro, em julho. Mas não conseguimos conciliar porque ele já tinha uma viagem internacional com a família meses antes. Portanto, de cara, essa seria – e foi – a minha principal dificuldade: correr sozinho 42 km não é mole! E o Tarso é garantia de papo para uma ultramaratona...rs

Porém, não foi a única dificuldade. Outras vieram pelo caminho. No fim de janeiro, lesionei a panturrilha em um treino bobo com o amigo Iúri Totti. Voltei logo após o Carnaval. E, quando ia engrenar nos longões, a pouco mais de um mês antes da largada, voltei a sentir a perna. Fui ao médico e triatleta Sérgio Maurício, que não jogou a toalha. Disse que, se eu fizesse tudo direitinho, ainda teria tempo.

Passei então aquela semana de molho, só pedalando na academia e iniciando a fisioterapia. Na semana seguinte, voltei a correr. Resultado: fui para a corrida tendo feito apenas dois treinos longos, um de 20km e outro de 25 km.

Viajei no 28 de abril, chegando no dia 29, quando peguei o kit da prova, promovida por uma rede de academias (Good Life Fitness). Na véspera, fiz um turismo leve, para não andar demais, e à noite comi aquela massa preparada pelo casal de amigos que me hospedava. Aliás, a visita aos dois foi o motivo da viagem. Nesse dia, descubro que havia outra maratona com largada em frente ao prédio onde estava, era só descer...rs

Mas lá fomos nós para a largada mais distante. Meu amigo Bruno Cerbino, que acordou cedo para nos levar e comprou o café especial (banana, aveia e óleo de coco = receita do nutricionista Bruno Chlamtac), e minha mulher, Fernanda Freitas, que largou uma hora depois para a sua primeira meia maratona. 

Ah, na véspera, tive que comprar um casaco contra o vento e a chuva, porque essa era a previsão do tempo. Não deu outra. E essa foi a última dificuldade.

Depois de um tempo na fila do banheiro, como nos meus primeiros 42 km, me despedi de Fernanda e Bruno e larguei com chuva e sensação de 4 graus. Antes, li um bilhete de incentivo que o Tarso mandou me entregar. Show!

A primeira metade da prova foi a pior por causa do psicológico. Havia marcação do percurso a cada quilômetro. E, sem a companhia para me distrair em uma conversa, parecia sempre que faltava uma eternidade.

Com o frio, foram alguns pit stops no caminho para fazer xixi. O primeiro em uma cafeteria famosa no país e os demais em banheiros químicos. Prova com boa estrutura. A cada parada, ganhava um novo gás...rs

Também fiz alguns alongamentos rápidos durante o trajeto, devido a um incômodo no joelho. Foram fundamentais. Dica do fisioterapeuta Rodrigo Pinheiro.

Nessa primeira metade, a prova se encontra com os corredores da meia, mas não avistei Fernanda. Após os 21 km, relaxei um pouco, pois vi que tinha condições de completar, a panturrilha não incomodava e a marcação de quilometragem ficou mais espaçada.

Aí veio o vento contra, pois a metade final era beirando o Lago Ontario. Andei alguns trechos nos pontos de hidratação a partir do km 30, confesso. Mas do km 37 até a chegada, engatei direto nos 5 kms finais, tamanha era a vontade de chegar.

A comemoração
Comemorei da mesma forma que no Rio, levando os braços para o alto. Se bem me lembro, cheguei ouvindo uma música do The Who. À direita, avistei na grade: Bruno, sua mulher Fernanda com a irmã Luciana e mais a minha Fernanda, que também completou a sua prova.

Minha recepção
Foi emocionante. Terminei me sentindo bem. Recebi uma medalha gigante e me enrolei naquelas “mantas” de alumínio contra o frio. Sempre quis isso...kkk

Fernanda, eu e as medalhas
Já estou seco para voltar, pois me dei uns dias de férias, como um jogador de futebol após a temporada...hehe

Se vou tentar outra? Certamente. Só não penso mais em treinar no calor escaldante que faz no Rio nos meses de janeiro a abril. Portanto, provavelmente, a próxima prova será no segundo semestre de 2017.

Para quem se interessar, eis o link da corrida: http://www.torontomarathon.com/ Muito bem organizada e utilizada pelos interessados em se qualificar para maratona de Boston, por causa do percurso. Bem, é o que dizem.

Outra maratona na cidade: http://www.torontowaterfrontmarathon.com/

Abs