segunda-feira, 27 de julho de 2015

É hoje o dia da alegria!!!!!!

Em primeiro lugar, obrigado a cada um que nos acompanhou por aqui e que, como uma novela ou contos de fadas, torcia por um final feliz.


Nos dias imediatamente anteriores à prova, confesso que não a esperei com ansiedade. No sábado fui ao Teatro Municipal de Niterói com as crianças, brincamos no shopping e jantamos (o famoso jantar de massas!). Tudo na mais perfeita ordem. Acabei perdendo um pouco de tempo arrumando minhas coisas para o dia seguinte e fui dormir mais tarde do que esperava.

O dia 26 de julho de 2015 vai ficar marcado pra sempre na minha história, foi perfeito, como tantos outros. Acordei às quatro da manhã e pude já sentir a vibração da galera através do grupo de whatsapp, enchendo-nos de vibrações positivas. O Léo me buscou na hora prevista, a van saiu às cinco em ponto. Tudo certo!

Na van que nos levava ao Recreio dos Bandeirantes, um momento de emoção. Um vídeo preparado pelas famílias dos corredores desejando-nos boa sorte me surpreendeu e me encheu de orgulho. Lá estavam Dari e as crianças, cada um a seu jeito dizendo que me amavam e desejando uma boa prova. E assim com os outros também. As lágrimas do professor e companheiro Everton me deram a certeza de que corríamos por prazer e que nada disso era em vão.

Chegando ao Pontal do Tim Maia, a vontade de urinar era grande e não havia banheiros suficientes para todos. Tive que me aproveitar de um matagal num terreno baldio. Ao dobrar a esquina e entrar por uma rua de terra batida, me deparo com um par de nádegas sendo limpas (rsrs)! Aquela visão do inferno veio acompanhada de uma afirmação "E aí, pode usar o banheiro aqui do lado, tem lugar pra todo mundo!" Era um senhor de cerca de 55 anos descarregando suas emoções antes da prova. Obviamente não contive o riso e tive que urinar do outro lado. Era a certeza de que ainda iria me divertir muito com isso tudo.

O ambiente era o mais favorável. Muita gente animada, gritaria, arrepio: após cinco de meses, finalmente tinha chegado a hora.


Como eu já disse por aqui inúmeras vezes, os amigos são muito importantes na vida. Na corrida não é diferente. Eu disse e reafirmo: não teria feito nada disso sozinho. Nesses últimos cinco meses de preparação não teria aguentado tantos quilômetros não tivesse a companhia da equipe. O colombiano de nome profético Jesus é um destes. Com dores (fascite plantar como eu) veio nos acompanhar, certo de que, com o nosso ritmo e nossas risadas, terminaria a prova pela primeira vez e, sem saber, foi fundamental para minha prova.

Logo no inicio da prova, ainda antes do quilômetro quatro, Rodrigo começou a sentir as suas já famosas dores, aquelas que o levaram a ser o alvo preferido dos médicos, fisioterapeutas, farmacêuticos e representantes de laboratório. No início não levei a sério, disse brincando que era frescura, coisa da cabeça dele. Talvez isso o fizesse esquecer ou parar de se impressionar com as dores, que poderiam levá-lo à ruína (era meu temor). Sendo assim, começamos devagar e devagar permanecemos. 

As dores do colega não o impediram de ser espirituoso e irônico, sorrir e fazer piadas com a situação e com o nome do colega e a fama do seu homônimo. Eu, como católico, ainda acho que Jesus não foi parar ali por acaso. Rodrigo se lamentava do nosso ritmo e insistia que eu estava perdendo a prova. Eu dizia: "que se dane o tempo, estou me divertindo!".

Nos quilômetros inciais muita alegria e sorrisos. No quilômetro dez um momento de tensão. Rodrigo ingere seu sache de gel e o joga fora... na cabeça do sujeito ao lado. Ao mesmo tempo, silêncio de nós três, esperando pelo pior. Eis que o sujeito atingido fala: "essa prova não tem Gatorade, mas tá chovendo gel, que maravilha!" Ufa, ele tinha levado na esportiva. Pedimos desculpas e seguimos. Eu lhe disse pra ficar despreocupado que o gel do Rodrigo já tinha acabado (mentirinha, né?). 

Há três pontos que gostaríamos que a organização da prova melhorasse nos próximos anos. Em primeiro lugar, no quesito hidratação. Na primeira metade da prova quando passamos não havia mais sinal algum de isotônicos e poucas águas restavam nos postos. Isto para um grupo que estava fazendo o seu melhor, ainda que demorasse mais um pouco para alcançar seus objetivos. Por isso o rapaz havia dito que não havia Gatorade. Preferimos seguir, deixando que este problema não nos tirasse o espírito alegre que nos trouxera até ali. Ainda ficaríamos decepcionados com a organização da prova pela falta da música de Mozart e das luzes que nos saudariam no túnel do Joá (coluna de Ancelmo em O Globo 25/07/2015), por já estarem desmontando os equipamentos. Lembro-me da nossa expectativa ao ver o túnel e curiosidade para saber como seria passar tao alegre e ganhar mais este incentivo. Do quilômetro vinte até o malfadado túnel,  Rodrigo não dizia outra coisa que não "tô doido pra ouvir o Mozart logo". Ficamos frustrados, mas isto não afetou nosso rendimento. Seria algo a mais, e não foi. Por último, acredito que faltou ainda proteção e isolamento aos corredores em muitos trechos da jornada.

Terminamos a primeira parte da prova (a segunda corrida das quatro que teria que percorrer o Rodrigo) mantendo os sorrisos. Subindo o elevado do Joá um fotógrafo ao ver nossa alegria e companheirismo nos desafiou "Quero ver essa alegria lá na chegada!" Ao que respondi "Pode ter certeza". Neste momento, peguei o telefone da Dari que eu havia levado para que a família e amigos pudessem nos acompanhar e fizemos selfies, enviei mensagens aos familiares, tentei ligar para Dariela e para meu irmão (estes últimos sem sucesso). Havia visto que faltava pouca bateria, guardei o telefone e não mais mexi nele. Momentos depois da prova soube da aflição de todos ao ver que o aplicativo da Maratona não atualizava nossa localização após a chegada em Copacabana e muitos temiam pelo pior. Havia acabado a bateria do telefone, não a nossa.



O início de São Conrado e a aproximação do quilômetro vinte e seis fazem minha preocupação com o Rodrigo aumentar, quadro que piora a partir do trinta. Tento caminhar ao lado do Rodrigo, mas meu corpo não o permite: tal qual um desenho animado, minhas pernas continuam se movendo ao ritmo da corrida. Incrível, nunca tinha experimentado esta sensação. Apesar disso, tinha a certeza de que terminaríamos. Jesus também reclama a todo momento das dores na fáscia plantar, mas não acredito numa só palavra do que diz, tal a expressão calma que ele transmite e a facilidade que demonstra correr.

Descemos a Niemeyer e as conversas começam a escassear. Aparecem pela primeira vez os populares a nos estimular e em Copacabana as frutas e biscoitos oferecidos pelo patrocinador da prova e o insuportável cheiro de gordura trazido pelos quiosques da orla. Nos animamos ao mantermos o ritmo firme das pisadas e assim ultrapassarmos os corredores, que já caminhavam. Já não ficaríamos tão para trás.

Confesso que o quilômetro trinta e sete (altura do Copacabana Palace) me trouxe o alivio: Rodrigo encontra seu enteado João. Desta forma, seria mais um incentivo para o alívio das dores do colega.

Apertamos então o ritmo, eu e Jesus mantendo o bom humor e a confiança. A vitoria estava logo ali. Ao atravessar o túnel do pasmado as primeiras lágrimas já teimam em querer sair, não as deixo.

A enseada de Botafogo a partir do quilômetro trinta e nove ressuscitam minhas dores relacionadas à fascite plantar. Sinto uma vontade imensa de fazer como todos os que vejo: quero andar. Jesus me estimula e me proíbe. Como aquele colombiano com nome celestial ainda tinha forças pra tentar correr mais forte?

No quilômetro quarenta encontro com Rossy, o treinador, pergunto pela Isa e me diz que terminou. Sinto-me feliz por ela, após tantos problemas. No instante seguinte vejo duas amigas apoiando outra para que termine. Outros três na maratona, outra vitória da amizade e superação pessoal, outro doar-se ao outro. Mais alegrias.

Não vejo mais placas de sinalização a partir do quilômetro quarenta e um. Após a curva do Morro da Viúva, vejo ao fim a linha de chegada. Do nada descem as lágrimas. Igualmente tento controlá-las, mas não consigo. Choro copiosamente. Como uma criança. Como há muito não fazia. Lembro-me do esforço que fiz até ali, do primeiro dia em que me levantei solitário às cinco da manhã e de encarar as ruas ainda escuras. Penso no meu irmão, meu pai e minha mãe que não puderam estar ali, na falta que sentia deles. Penso na minha família, na minha esposa, nas crianças, na minha sogra que estava ali e isto me conforta o coração, me faz acelerar ainda mais. Dou um abraço no amigo Jesus e lhe agradeço por estar ali. Os populares começam a aplaudir-me. Foi especial. Busco em ambos os lados minha mulher e minhas crianças e não as encontro.


Cruzo a linha de chegada com um tempo bem maior do que eu planejava, ainda preocupado com o Rodrigo. No entanto, sabia que faltando pouco ele terminaria, até mesmo rolando, como o Valter, jogador de futebol ousara fazer uma vez numa comemoração. Este era o prometido por ele dias antes da prova.

A paz toma conta de mim. Ainda procuro minha família. Quando acabo de chegar na dispersão tomo um susto com minhas pequenas correndo atras de mim e efusivamente me abraçando. Mais lágrimas, mais alegria. Pronto, minha felicidade estava completa. Ganhei o meu troféu, exatamente como eu relatei no blog há tempos. Martha, orgulhosa, apontando pra camisa que dizia "Meu pai correu a maratona" (e que meu irmão fizera). Milena gritando que eu havia conseguido! Um beijo na esposa e no Théo. Um abraço na minha sogra.  Minha mãe,  como um presságio me liga naquele exato momento. Tudo o que eu queria ouvir. 

Olho para a frente e vejo o João (Rodrigo vencera suas dores e chegara, ufa, deu tudo certo para nós três!). 

Mantenho o sorriso prometido ao fotógrafo.

Pronto, nada mais me importava no mundo!

Sou um maratonista!


9 comentários:

  1. Lindo demais!!!!! Parabéns!!!! Chorando muito...........

    ResponderExcluir
  2. Muito emocionante!
    Tb chorei aqui!

    Parabéns, maratonista!

    ResponderExcluir
  3. Agora é esperar a Isa, juntar tudo e publicar o livro!

    ResponderExcluir
  4. Eu sei como foi importante essa prova para vc! Estou orgulhosa de vc! Meu maratonista!!

    ResponderExcluir
  5. Tarso, que emocionante! Eu com as minhas poucas meias maratonas sinto uma imensa sensação de realização, imagino vcs tendo concluído a maratona. Parabéns pela união e amizade de vocês!

    ResponderExcluir
  6. Tarso, infelizmente a gente não se comunicou, eu estava de férias, e não pude estar lá na linha de chegada pra te dar um abraço. Mas fiquei muito feliz ao chegar de volta das férias e ouvir o seu relato emocionado. Agora, como você mesmo fecha o blog, você é um maratonista! Parabéns e obrigado pela sua amizade! Jorge Paixão.

    ResponderExcluir
  7. Parabéns meu querido!! Vc é um vencedor e merecedor, pelo seu emprenhi e a sua dedicação e determinação para chegar até a maratona!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Desculpa Tarso apareceu congresso de família, sou eu Naja bjs

      Excluir