domingo, 26 de julho de 2015

Fui para a guerra e venci

Já comecei um post assim, mas não posso deixar de fazê-lo novamente. Obrigado, Tarso. Amigo que fiz e companheiro deste blog, deixou de concluir sua prova em um bom tempo para me acompanhar e garantir que eu completasse os 42km. Não teria conseguido sem ele e Jesus, colega de equipe que também nos acompanhou.

Minha corrida foi de total superação. Há 15 dias, vinha convivendo e tentando tratar uma dor no joelho após o longão de 34km. Na quinta, antes da prova, fui testá-lo em um treino leve com o Tarso e a Isa, e senti que a coisa estava feia. Corri direto para uma clínica de ortopedia e fiz ressonância no mesmo dia. Um amigo médico conseguiu antecipar o resultado por telefone, que confirmou minha lesão, estava com edema no joelho, a três dias da largada.

Decidi fazer uma infiltração, primeiro por mim mesmo, que me impus esse desafio e treinei tanto; segundo, por todos que acompanharam a minha saga de disciplina nos treinos. Era uma ocasião especial. Se fosse a segunda maratona, acho que não correria lesionado.

No caminho para o início, no Recreio, assistimos a um vídeo, na van, que minha mulher, Fernanda Freitas, preparou, com ajuda do Rossy, nosso treinador, que colheu depoimentos de familiares aos corredores da equipe. Além desse incentivo, havia meus pais na chegada, pela primeira vez. Corri com as iniciais deles (Paulo e Isa) escritas a caneta em cada pé. Eles também escreveram uma mensagem de apoio que levei comigo para os momentos críticos, assim como a Fernanda e o meu enteado João Guilherme. Foram lidas após os kms 20 e 30, não lembro em qual km exatamente.


Dada a largada, logo começou o meu tormento mental e físico. O joelho infiltrado começou a se manifestar, quando achei que ficaria anestesiado, ao menos em boa parte da prova. Pensei em desistir nesses primeiros quilômetros. Como poderia suportar aquela dor por 42km? Mas lembrei de tudo que estava em jogo e das pessoas que acreditaram em mim. Então, insisti.

Ao completar 10km, percebi que dividir a prova em quatro trechos de 10km seria uma boa estratégia para o cérebro. Na Praia da Reserva, ainda no Recreio, havia pequenos trechos de paralelepípedo na transição do asfalto, que maltratavam o meu joelho. Mentalizei que a dor era passageira, como havia visto em um vídeo na noite anterior, compartilhado pelo Everton, treinador da equipe.

Passei a pisar de um jeito que tornasse a dor menos insuportável, o que me causou uma bolha debaixo do pé e outra dor, no glúteo, ambas do mesmo lado. Aos 15km, incrivelmente a dor no joelho adormeceu até a subida do Elevado do Joá, quando o piso inclinado das curvas a trouxe de volta. E foi assim até o fim. Quem já teve lesão na banda iliotibial sabe como é.

Na Avenida Niemeyer, mais uma subida. Cheguei a caminhar por um breve pedaço, breve mesmo, porque logo percebi que era pior para a dor e seria ainda mais difícil retomar. A essa altura, liguei o som para me dar um gás. Tarso e Jesus seguiam mais à frente um pouco, mas sem me perder de vista.

Depois que passei por Leblon e Ipanema, veio a parte mais crítica para mim: Copacabana. Ali, o tempo ficou mais abafado e o cheiro de gordura dos quiosques era forte, péssimo para quem controlou também o enjoo por toda a prova. Seguindo as dicas que li, não mirei a orla para não ver o Leme distante e abalar o psicológico. Olhava para o chão ou para os prédios à minha esquerda.

No km 37, meu enteado João Guilherme me encontrou com Fernanda. Tarso e Jesus, então, aceleraram e eu segui com João me puxando, bastante emocionado pelo encontro. Dali em diante, os poucos incentivos de desconhecidos ao longo do trajeto aumentaram e cresceu a sensação de término de prova.

João Guilherme me puxando

Quase na chegada no Aterro, Rossy me encontrou para me puxar também, mas pedi que não acelerasse, pois não conseguiria administrar. Na reta final, ele e João Guilherme tiveram que me deixar e Isabelle me levou nos últimos metros.

Avistei meus pais do lado direito, onde também estavam Fernanda e Pilar, uma amiga nossa. Levantei os braços, me emocionei pelo encontro mais uma vez, mas não desabei no choro como achei que desabaria, muito provavelmente pela dor que me incomodava e que carreguei por 42km.

Quando a corrida vira algo sério em nossas vidas, amigos e familiares gostam de te apresentar como maratonista. E eu sempre tinha que explicar que não era bem assim. Havia uma distância muito grande. Agora, estou à vontade com o cartão de visita...rs

Fui para a guerra e voltei, literalmente.

Tarso, amigo, quando é a próxima? Você escolhe!

7 comentários:

  1. Que beleza de depoimento .... nos emocionamos demais com a prova, com as cenas impressionantes que assistimos na chegada dos atletas, com a sua chegada e dos seus amigos, e com esse texto maravilhoso.

    Que venha NY, Berlin, etc !! O mundo é pequeno para vencedores e equipe como a de vcs !

    E pelo visto, João já está pensando em 2016 .... rrsrs !

    (Paulo March & Isa March)

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  2. Neste exato momento o que preciso é não deixar que o dia de ontem se apague da minha mente. Depois, preciso cuidar do meu pé, o que me tirará das ruas por alguns meses. Terceiro, perderei meus quatro quilos restantes. Enquanto isso vou frequentando a academia e pedalando, além de nos encontrarmos com mais frequencia, aproximarmos nossas famílias e continuarmos a rir muito, como sempre. Paulo e Isa, muito prazer em conhecê-los! Rodrigo, você é um vencedor.

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    1. Tarso, acabamos de ler seu post acima, com mais emocionantes detalhes da prova, uma prova acima de tudo de companheirismo, de amizade, de conhecimento um do outro, equipe mesmo, ingredientes vitais para uma vitória desse nível para vocês.

      Parabéns ! (Paulo March)

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  3. Muito lindo!!! 😭😭😭😭😭parabéns!!!!!

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  4. Valeu Melissa por nos acompanhar por aqui

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  5. Emocionante o seu depoimento, uma história de superação para contar o resto da vida! Parabéns novamente, poucos têm essa garra toda! Boa recuperação e que venham novos desafios e outras inúmeras conquistas.

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