quarta-feira, 29 de julho de 2015

Minha primeira maratona - Por Marise Basso Amaral

A primeira Maratona a gente...
...cansa muito, acha que não vai chegar, fica com medo.

Dá frio na barriga antes, durante e depois. Ficamos muito ansiosos na véspera. Vamos dormir pensando que temos que dormir e aí mesmo que não conseguimos. Temos que comer bem, aí vem aquela vontade de comer um saco de Amandita (delícia!). Vem aquela dúvida: " será que vou dar conta?", vem um momento que a gente acredita que poderá fazer até um tempo legal, que pode ser mais fácil do que parece (não é, pelo menos não ainda...) depois vem o pânico de nem terminar. Na verdade, ninguém sabe o que vai acontecer até a gente começar a correr e ir em frente quilômetro a quilômetro.

Confesso que escrevendo agora, depois de ter terminado a Maratona de domingo, me vem uma sensação esquisita... Acabou mesmo? Não tem mais treino? Não vou mais correr com a Isabelle atrás do Marcio e do Cristiano? Credo! Vou poder dormir no sábado de manhã! Acabou! Tão rápido!!! (praticamente 5 horas). 

Venho escrevendo sobre nossos treinos, sobre as corridas, sobre as pessoas que fazem a Equipe de Fibra, sobre o que a corrida tem significado pra nós. Mas, agora que acabou a Maratona, se instalou uma espécie de quietude, acho que é mesmo a sensação de que a gente fez algo bem especial, sem excesso de vaidade nem falsa modéstia, mas aquele sentimento lá dentro,uma vozinha lá no fundo,dizendo, repetindo: "Você conseguiu! Você conseguiu!" Esse sentimento é por demais pessoal, difícil de ser compartilhado. Posso dizer que tenho dentro de mim uma emoção que não explodiu na hora, achei que ia cair em prantos, confesso. Isso não aconteceu, ela ficou toda comigo, reverberando. E acordei diferente, acordei mais humilde, mais feliz comigo e com os outros e cheia de admiração pelas pessoas. 
Pessoas anônimas que eu cruzei pelo caminho e que correndo sozinhas ou em grupo iam, cada uma a seu jeito, dando uma lição de superação, de amor à vida, de amor ao esporte, de leveza, de alegria, de esforço e determinação. Também cheia de admiração por pessoas bem próximas a mim como a Thamiris, o Douglas, o Marcus Alexandre, a Letícia, a Márcia Torres, o Marcos Marini, o João, o Rodrigo Troyack, o Rafael Grassi, meu filhote Pedro e o pai dele, Cristiano. Pessoas que dentro de seus cotidianos, projetos, trabalhos, sonhos, tratamento, escola, compromissos, criaram um espaço na vida para se dedicar a um projeto. Ver todos ali, e também a minha filha Luiza, a nossa Lourdes, a linda família do Alexandre, mais amigos queridos como a Ariane, Flávio Flavio Pontes, o Thomaz Barcellos me encheu de alegria.

Mas não seria justo se eu não falasse do que mais me faz continuar sorrindo pelos cantos, apostar em novos sonhos, e, é claro, continuar comendo batata doce. É o Pedro. Terminar a corrida com ele ontem foi a maior emoção dos 42km. Estava chegando próxima à linha de chegada e nada. Não via ninguém, não achava ninguém. Foi me dando uma agonia, comecei a ficar preocupada. Será que algo tinha dado errado? Será que o Pedro não tinha conseguido fazer bem a prova dele? Será que a Lourdes e a Luiza não tinham achado todo mundo? Puxa! É muita gente! Não tinha como dar certo... Aí eu vi um grito e vi ele correndo na minha direção com a medalha no pescoço. Tinha pulado a grade de proteção e eu soube, estava nos seus olhos, que tudo tinha dado certo. Lá estava o meu filhote com aquela alegria imensa que ele traz no peito, me dizendo: "Vem mãe, falta bem pouco, vem que eu te ajudo!"

Corri também para a grade e dei um beijo na minha filhota, que estava lá com aquele sorriso discreto, cheio de orgulho, mas que ia ficar esperando o papai passar. 

Fomos eu e Pedro correndo, cruzamos a linha de chegada, ele me levando. Disse para ele que nem acreditava que tinha acabado, ele disse que estava tudo bem, tudo ótimo. Perguntei da corrida dele, e ele disse: "Mãe, foi sensacional, eu me senti perfeito!!! Eu adorei." essa frase foi o melhor presente de seis meses de treinamento e de sei lá quantos quilômetros rodados.

Depois chegou o pai dele, correndo com a nossa filhota e foi lindo! Ela não podia estar mais orgulhosa. Ele, embora tenha demorado para se convencer disso, conseguiu correr uma maratona, treinando com muita dificuldade de tempo, fazendo treinos curtos, que cabiam na agenda, mas bem longe do ideal para uma prova desse tamanho. Ele que no fundo, é um dos principais responsáveis por tudo isso, por toda essa festa! Ele e ela juntos me encheram de orgulho! No ano que vem, quem sabe, teremos quatro medalhas....

A vida de todos nós sempre tem muitos momentos, muitas coisas difíceis e bonitas acontecem na vida de todo mundo. Nisso não somos especiais, nem melhores do que ninguém. Mas peço licença para marcar que poder subverter, em alguns momentos, uma pauta, por demais marcada na doença, na dificuldade, no trabalho que dá cuidar de alguém, ou cuidar de si mesmo, que vem com uma doença crônica, por outras, mais edificantes é uma grande vitória. E nisso poder, com integridade, ficar feliz e orgulhoso quando for o caso e também, com a mesma intensidade ficarmos apreensivos, tristes e preocupados quando a situação demanda. Aprendendo nesses movimentos, nessas alternâncias, nas nossas "Maratonas" particulares um amor à vida, ao outro e a si mesmo.

 Marise Basso Amaral corre pela Equipe de Fibra

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