A história de minha segunda maratona foi bem diferente...
Para começar, o processo de preparação foi muito mais doloroso e difícil. Após a maratona em julho de 2015 eu comecei a me recompensar diversas vezes com guloseimas e junkie foods, acreditando que isso era possível, afinal "eu havia feito a maratona"! Seguiram-se: uma nova lesão, inconstância nos treinos, uma viagem de fim de ano ao exterior e outra lesão.
Quando realmente me convenci de que era possível completar outra maratona, após muita insistência e apoio do Rossy, do Rodrigo e da minha família, já era março. Cumpri as planilhas dos treinos e voltei a me motivar com meus resultados e meu emagrecimento.
Encontrei meu auge ao mesmo tempo em que encontrei Jesus, meu colega colombiano, que correu conosco a maratona do ano passado. Com ele fiz dois dos últimos longões para a prova e fui melhorando, me sentindo mais confiante. No último treino, junto com Carla e Jesus, me faltou um quilômetro dentre os trinta e dois que deveria cumprir. Uma nova lesão, desta vez em algum músculo da coxa, me acendeu o sinal de alerta e jogou minha motivação no chão.
Após ida ao médico e fisioterapeuta, ouvi de ambos, Dr. Sérgio Maurício e Rodrigo, que isto não seria impeditivo para a corrida, bastaria cumprir os dias que me restavam tratando-se. Foi o que fiz.
Em casa ouvi o incentivo da Milena, que inclusive me fez um desenho e no grupo do Whatsapp ouvi incentivos quando já pensara e dissera que desistiria.
No dia anterior à prova recortei o logotipo da Upsports de uma camisa antiga e colei-o em uma camiseta nova que comprei na Track & Field. Não ficou a oitava maravilha do mundo, mas pelo menos eu agora poderia escrever na camisa de cor alaranjada. De cara pensei na minha falecida avó e escrevi o nome dela com muito carinho. Em seguida veio o restante dos meus familiares, Rossy, Rodrigo March e Jesus, aquele que está no céu, mas também o que estaria ao meu lado na prova (não era necessário escrever o nome de ambos, não é?). Preparei também uma playlist intitulada Maratona do Rio 2016 no Google Music que, no fim das contas, resolvi não ouvir.
Ao chegar na prova, fiquei feliz pela ansiedade da Carla, que depois completaria, excepcionalmente bem, sua primeira maratona. Isto me trouxe energias positivas e mais certeza de que eu, apesar do problema muscular e da falta de ritmo, fecharia a prova.
Partimos eu, Jesus, Natália e Carla rumo ao esperado. Posso dizer que os primeiros quinze quilômetros foram relativamente tranquilos. Eu me continha, inseguro quanto à minha condição. Jesus e Carla foram, aos poucos, naturalmente se desgarrando, até que finalmente eu e Natália nos perdemos deles.
Não sei ao certo quando caminhei pela primeira vez (a primeira de muitas), mas isto não me desanimou, pois eu realmente queria completar a prova. O fato de caminhar não se deveu apenas ao calor e à secura do tempo, mas também foi resultado das últimas três semanas de molho e da ansiedade que tomou conta de mim e me fez adotar a velha política de compensação através dos doces.
Eu posso dizer que realmente sofri as dores da maratona dessa vez! Nunca me hidratei tanto numa prova nem fiquei tão feliz em ver o Rodrigo March na vida! Descer a Niemeyer, na altura do quilômetro trinta, ver o Rodrigo com seu spray no cinto de utilidades, pronto pra luta, me fez lembrar saudosamente do ano passado. Realmente eu queria ouvir aquele arsenal de conversas...
Acho que ele deve ter tomado um susto assim que me viu e disse: "e aí, vamos lá?", já que eu lhe retruquei: "calma aí, nem pense em correr agora!"
E assim fomos, eu com minhas dores, Rodrigo, o enfermeiro, com seu spray milagroso e Natália, cansada, mas com paciência para seguir conosco.
Rodrigo tirou uma foto nossa e eu lhe disse que seria o único sorriso que daria na prova. Vieram outros fotógrafos e tentei estar bem na foto, mas não como da primeira vez.
Quase no fim da Praia de Copacabana Natália encontrou o marido que, preocupado com o atraso da sua amada, veio caminhando no sentido contrário para resgatá-la rumo ao final feliz. E assim foram os dois, distanciando-se de nós.
Na Praia de Botafogo e já com a certeza do dever cumprido, vejo a Susana, minha colega da Biblioteca Nacional, de pé junto a grade, com um saco plástico e uma lata de Coca-Cola. Com grande alegria ela me entregou, me deu o incentivo que bastava para completar os últimos dois quilômetros: não a Coca-Cola, mas o sorriso e a frase: "Parabéns! Você está ótimo! Você está muito bem!" Eu, que havia tido uma crise de pânico no cinema duas semanas antes e havia desistido da prova, ganhei uma injeção de ânimo mais forte que qualquer grau de serotonina possível. É claro que tomei dois ou três goles da Coca, cujo sabor era doce como a vitória. Na minha cabeça, era a Flávia quem traria o refri, mas compreendi seus motivos e fiquei feliz da mesma forma.
Na curva comecei a me arrepiar ouvindo o locutor e o som do público.
Na reta final dei um adeus para a equipe de filmagem da Assessoria e vi o Rossy se juntando a nós.
Quando chegaram as grades de proteção meus companheiros me deixaram e procurei desesperadamente minha família, que no ano passado errou o ponto e me encontrou na dispersão.
Ouvi Milena gritar meu nome na altura do pórtico, não me contive e gritei o mais alto que eu pude!
Consegui!
Soltei, aí sim, o sorriso contido pela dor dos 42 quilômetros. Um sorriso de verdade, espontâneo.
Abracei a Dari e meus filhos, saudei meus vizinhos (que vieram me ver), agradeci a minha avó no céu pela ajuda, pensei nos meus pais e no meu irmão e vibrei.
Não sei ao certo quando caminhei pela primeira vez (a primeira de muitas), mas isto não me desanimou, pois eu realmente queria completar a prova. O fato de caminhar não se deveu apenas ao calor e à secura do tempo, mas também foi resultado das últimas três semanas de molho e da ansiedade que tomou conta de mim e me fez adotar a velha política de compensação através dos doces.
Eu posso dizer que realmente sofri as dores da maratona dessa vez! Nunca me hidratei tanto numa prova nem fiquei tão feliz em ver o Rodrigo March na vida! Descer a Niemeyer, na altura do quilômetro trinta, ver o Rodrigo com seu spray no cinto de utilidades, pronto pra luta, me fez lembrar saudosamente do ano passado. Realmente eu queria ouvir aquele arsenal de conversas...
Acho que ele deve ter tomado um susto assim que me viu e disse: "e aí, vamos lá?", já que eu lhe retruquei: "calma aí, nem pense em correr agora!"
E assim fomos, eu com minhas dores, Rodrigo, o enfermeiro, com seu spray milagroso e Natália, cansada, mas com paciência para seguir conosco.
Rodrigo tirou uma foto nossa e eu lhe disse que seria o único sorriso que daria na prova. Vieram outros fotógrafos e tentei estar bem na foto, mas não como da primeira vez.
Quase no fim da Praia de Copacabana Natália encontrou o marido que, preocupado com o atraso da sua amada, veio caminhando no sentido contrário para resgatá-la rumo ao final feliz. E assim foram os dois, distanciando-se de nós.
Na Praia de Botafogo e já com a certeza do dever cumprido, vejo a Susana, minha colega da Biblioteca Nacional, de pé junto a grade, com um saco plástico e uma lata de Coca-Cola. Com grande alegria ela me entregou, me deu o incentivo que bastava para completar os últimos dois quilômetros: não a Coca-Cola, mas o sorriso e a frase: "Parabéns! Você está ótimo! Você está muito bem!" Eu, que havia tido uma crise de pânico no cinema duas semanas antes e havia desistido da prova, ganhei uma injeção de ânimo mais forte que qualquer grau de serotonina possível. É claro que tomei dois ou três goles da Coca, cujo sabor era doce como a vitória. Na minha cabeça, era a Flávia quem traria o refri, mas compreendi seus motivos e fiquei feliz da mesma forma.
Na curva comecei a me arrepiar ouvindo o locutor e o som do público.
Na reta final dei um adeus para a equipe de filmagem da Assessoria e vi o Rossy se juntando a nós.
Quando chegaram as grades de proteção meus companheiros me deixaram e procurei desesperadamente minha família, que no ano passado errou o ponto e me encontrou na dispersão.
Ouvi Milena gritar meu nome na altura do pórtico, não me contive e gritei o mais alto que eu pude!
Consegui!
Soltei, aí sim, o sorriso contido pela dor dos 42 quilômetros. Um sorriso de verdade, espontâneo.
Abracei a Dari e meus filhos, saudei meus vizinhos (que vieram me ver), agradeci a minha avó no céu pela ajuda, pensei nos meus pais e no meu irmão e vibrei.
No fim das contas, senti muitas dores, foi muito sofrido, mas sabe, o meu médico e meu fisioterapeuta tinham razão: dava pra correr.
Agora é aguardar onde vai ser a minha próxima maratona no ano que vem!
Agora é aguardar onde vai ser a minha próxima maratona no ano que vem!